segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Os números não responderam

São 20,2%... Esse foi o percentual de votos conquistados por Marina Silva e Plínio de Arruda Sampaio, respectivamente a terceiro e o quarto colocados na primeira votação para presidência da Republica em 30 de outubro. O país amanheceu no dia seguinte em polvorosa. Viam-se as pessoas discutindo sobre o que teria acontecido para que as tendências apontadas pelos institutos de pesquisa de vitória plena e absoluta da candidata Roussef no 1º turno não se confirmassem.

O governo Lula crente que conseguiria transferir a totalidade dos seus mais de 70% de aprovação popular para a candidata já se preparava para liquidar a fatura eleitoral.

Uma das analises que se pode fazer é sobre a primazia que foi dada às estudos baseados quase que exclusivamente nas metodologias quantitativas. Foi a crença cega de que os dados antecipavam inegavelmente o que aconteceria.

Poucas pesquisas qualitativas provavelmente foram realizadas, o que não possibilitou uma sintonia fina dos articuladores das campanhas eleitorais com um fato: um significativo percentual dos brasileiros quer mais do que esta sendo colocado pelos postulantes ao cargo de mandatário da nação.

Em torno de vinte milhões de eleitores no Brasil não quer que as pessoas mais pobres só tenham reforço na capacidade de consumo. Eles provavelmente querem um programa de transferência de renda aliado a uma estrutura instrucional mais ativa e eficaz na capacitação do povo. Vinte milhões de eleitores querem um brasileiro mais informado e com capacidade de se bem situar neste mundo globalizado.

Entre esses vinte milhões de eleitores muitos são pequenos e médios empresários sedentos de um executivo que tenha coragem de discutir e propor uma reforma tributária que desonere a produção, o comercio e a classe média.

As urnas cantaram para os dois candidatos que agora iniciam novo embate que as discussões mais profundas sobre o Brasil se farão fundamentais. Aquele que as escutar e se colocar disposto a discutir terá mais chances.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Pesquisa de Orçamento Familiar e o Estatuto de Igualdade Racial.

“... a POF evidencia que o ritmo da redução das desigualdades tem perdido feio para o crescimento da Economia.” (Estado de Minas- Editorial -26-06-2010)



Dois fatos marcam essa segunda quinzena de junho de 2010: a apresentação dos resultados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) realizada no biênio 2008-2009 pelo IBGE e aprovação pelo Senado Federal do Estatuto da Igualdade Racial, que ainda depende da sansão presidencial para se tornar lei.

Eles têm entre si uma interseção muito importante no que se refere à população negra (pretos e pardos).

Pensemos. O exercício do consumo, desde que bem orientado e alicerçado dentro do conceito positivo de Sustentabilidade, é fator preponderante no fortalecimento e na segurança da nação. Tivemos prova cabal quando da bancarrota financeira de 2009, as medidas tomadas pelos governos dos países emergentes, entre eles o Brasil, de incentivo ao consumo, promoveram a blindagem de seus cofres nacionais que os permitiram atravessarem a tempestade relativamente ilesos.

O estudo do IBGE informou que numa média, uma família chefiada por uma pessoa branca gasta 89% mais do que a chefiada por um preto. Esse cotejamento entre essas realidades econômicas descobre uma vala abissal entre as realidades da força de consumo entre brancos e negros no país.

Entretanto o cenário é favorável quando pensamos em oportunidade de desenvolvimento nacional, Os investimentos financeiro, tecnológico, instrucional e infra-estrutural que a sociedade brasileira terá que fazer em si própria para vencer esse abismo econômico-racial são gigantescos. Se não fizermos corremos o risco real de perdermos essa locomotiva do desenvolvimento global. Esses investimentos garantiram com seus frutos uma sobrevivência com menores solavancos, uma vez que os economistas nos alertam que as crises são cíclicas.

A discussão sobre o Estatuto de Igualdade Racial, à luz dos dados da POF, mesmo neste estagio de aprovação legislativa é basilar quando o país terá 50,3% de sua população de alguma forma afetada por essa regulação uma vez aprovada.

O Brasil, para sua segurança e futuro financeiro, de suas instituições governamentais, econômicas e empresarias pode encontrar distintivos positivos se souber enxergar esse tesouro a céu aberto que é a criação e fortalecer consumidor afro-brasileiro nunca enxergado seriamente. Uma oportunidade impar de investimento na formação de uma potente e nova massa consumidora. Somos o maior país negro fora da África.

Se soubermos, podemos tornar real e aplicável um Estatuto a serviço do país e de suas futuras gerações.