segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Pesquisa de Orçamento Familiar e o Estatuto de Igualdade Racial.

“... a POF evidencia que o ritmo da redução das desigualdades tem perdido feio para o crescimento da Economia.” (Estado de Minas- Editorial -26-06-2010)



Dois fatos marcam essa segunda quinzena de junho de 2010: a apresentação dos resultados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) realizada no biênio 2008-2009 pelo IBGE e aprovação pelo Senado Federal do Estatuto da Igualdade Racial, que ainda depende da sansão presidencial para se tornar lei.

Eles têm entre si uma interseção muito importante no que se refere à população negra (pretos e pardos).

Pensemos. O exercício do consumo, desde que bem orientado e alicerçado dentro do conceito positivo de Sustentabilidade, é fator preponderante no fortalecimento e na segurança da nação. Tivemos prova cabal quando da bancarrota financeira de 2009, as medidas tomadas pelos governos dos países emergentes, entre eles o Brasil, de incentivo ao consumo, promoveram a blindagem de seus cofres nacionais que os permitiram atravessarem a tempestade relativamente ilesos.

O estudo do IBGE informou que numa média, uma família chefiada por uma pessoa branca gasta 89% mais do que a chefiada por um preto. Esse cotejamento entre essas realidades econômicas descobre uma vala abissal entre as realidades da força de consumo entre brancos e negros no país.

Entretanto o cenário é favorável quando pensamos em oportunidade de desenvolvimento nacional, Os investimentos financeiro, tecnológico, instrucional e infra-estrutural que a sociedade brasileira terá que fazer em si própria para vencer esse abismo econômico-racial são gigantescos. Se não fizermos corremos o risco real de perdermos essa locomotiva do desenvolvimento global. Esses investimentos garantiram com seus frutos uma sobrevivência com menores solavancos, uma vez que os economistas nos alertam que as crises são cíclicas.

A discussão sobre o Estatuto de Igualdade Racial, à luz dos dados da POF, mesmo neste estagio de aprovação legislativa é basilar quando o país terá 50,3% de sua população de alguma forma afetada por essa regulação uma vez aprovada.

O Brasil, para sua segurança e futuro financeiro, de suas instituições governamentais, econômicas e empresarias pode encontrar distintivos positivos se souber enxergar esse tesouro a céu aberto que é a criação e fortalecer consumidor afro-brasileiro nunca enxergado seriamente. Uma oportunidade impar de investimento na formação de uma potente e nova massa consumidora. Somos o maior país negro fora da África.

Se soubermos, podemos tornar real e aplicável um Estatuto a serviço do país e de suas futuras gerações.

4 comentários:

  1. Isto é bastante importante, Aparecido. E complexo, também. Não adianta as empresas mirarem apenas neste 'mercado'. É imprescindível que novas oportunidades no mercado de trabalho sejam geradas, que se combata o preconceito também no meio acadêmico para que esta massa consumidora (não necessariamente 'nova') possa consumir, sem se frustrar...

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  2. Muito interessante seu artigo. Acho uma oportunidade para refletir e buscar meios para que a sociedade organizada comecem a observar estes aspectos de forma mais madura e concreta. Cabe a nós mudar este cenário.

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  3. Que este olhar seja cada vez mais aguçado, pois se podemos devemos provocar esta reflexão nas pessoas. Nosso país é formado com bases em raizes negras, afro, então o fortalecimento de todos, a superação de desigualdade só vai levar ao crescimento econômico. Afinal o mercado de consumo espera por tantos brasileiros que ainda não tem acesso a saúde, a educação, e aos confortos que o mercado de consumo pode oferecer. As empresas pode provocar esta mudança também. É só acreditar e dirigir-se ao consumidor, porém precisamos de mudanças nas bases políticas e sociais, na superação de preconceitos, inclusive nas questões de empregos, na geração de renda para que este novo mercado possa se abrir. Parabéns pela iniciativa. continue abordando o tema, devemos bater na tecla. Já passou da hora.

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  4. A reflexão é pertinente, a população afro descendente é um estrato importante tanto como fronteira do crescimento de consumo quanto de oportunidades para reduzir desigualdades históricas. Entretanto, preocupa-me pensar nesta parcela da população de forma isolada do seu contexto maior, e que vai além de sua descendência, que é a situação sócio-econômica na qual a grande parecela dessa população se encontra. Creio q a desigualdade social abarca não só negros, pardos, mulatos, mas a míriade de raças que formam o nosso grande Brasil pobre (ou que passou para a classe média, segundo alguns).

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