terça-feira, 22 de maio de 2012

Apego. Uma pedra que queima a mão mas...


Os sociólogos têm desenvolvido interessantes estudos sobre as mudanças que caracterizariam as pessoas de acordo com a época em que elas nasceram. Esses estudos levam em conta o que é valorizado por cada geração. Por exemplo, as pessoas que nasceram entre os anos 60 e 70 do século XX têm uma forte ligação com a televisão, uma vez que foi nesta época que a mídia televisiva explodiu no mundo. Já as pessoas que nasceram a partir de 1995, foram alcunhadas de geração Z – a geração que nasceu ligada na internet. 

Mas o que podemos pensar como elementos que assemelhem as pessoas que nasceram nestes últimos 50 anos?

O descarte e o consumo de produtos são dois fenômenos crescentes que assinalam esse espaço de meio século. Só no Brasil, segundo o IBGE, a produção de lixo era da ordem de 290 mil toneladas por dia em 2000. E de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio promovida pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo de São Paulo, as vendas reais  cresceram 12,5% no mês de março de 2012 na comparação com março de 2011. Ou seja, jogamos muita coisa fora e também compramos cada vez mais.

Em meio a esse turbilhão de índices estratosféricos de descartes e de consumo um traço atemporal  das pessoas nos chama a atenção: o apego.

Sobre o sentimento de apego têm-se diferentes acepções. Elas vão desde interpretação negativa dada pelas linhas religiosas como aquilo que mais prejudica o ser humano em seu desenvolvimento, até as estratégias das empresas para conseguir a fidelização completa de seus clientes (o sonho dos gestores de cartão de crédito é que os clientes comprem até água mineral através de seus bilhetes plásticos).

Em Psicologia estuda-se o apego como algo necessário no estabelecimento dos laços afetivos e de valorização dos elementos que compõem a identidade de cada pessoa. Quando ele toma contornos patológicos gera conjunturas complexas como síndromes e até tragédias humanas. Casos intrincados em que uma pessoa sofre com uma relação extremada de apego a outra pessoa, animal ou objetivo desafiam os profissionais de Psicologia Clínica e de Medicina.  E ainda não se encontrou uma cura.

Uma anedota antiga conta que um componente de uma tropa de viajantes encontrou uma fervente pepita de outro às margens da cratera de um vulcão. Rápido ele a pegou com as mãos acreditando que ali se encontrava a sua imediata aposentadoria. Suas mãos começaram a queimar. Ele gritava de dor. Os outros viajantes vieram em seu socorro e lhe falavam para que soltasse a pedra. Mas ele não aceitava perde-la. Conclusão: ele perdeu as mãos.

2 comentários:

  1. Riqueza de blog, leveza e qualidade de textos. Digeríveis e saudáveis. Obrigado, amigo.

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  2. Oi Aparecido,
    Cheguei ao seu blog via Avalpsi. Gostei dos temas - especialmente afrodescendentes no Brasil- e do estilo com que voce discorre sobre eles. A prosa mais curta, objetiva, agrada os leitores mais modernos, acostumados a pulverizacao de conteudos dos ambientes multi-midia. Vou seguir o seu blog. Estou aprendendo tambem, escrevo no Wordpress um blog de casos chamado Acontecidos :)Abracos Luciana

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