sábado, 21 de abril de 2012

O que estrangeiros não sabem sobre os negros brasileiros... E muito provavelmente os brasileiros também não.





Fora do Brasil existe um grande desconhecimento sobre a História do país. Até então nada de novo. Infelizmente pouco de nós brasileiros também conhecemos o registro dos acontecimentos a fundo.

Um fato relacionado a esse tema chamou sobremaneira a atenção nos últimos dias.

Num debate sobre as cotas raciais nas universidades do Brasil, aberto pelo jornal The New York Times* , surgiu uma declaração desconfortável.  Trata-se de uma opinião da escritora e professora de Ciências Políticas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, doutora Melissa Nobles: “Ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, a experiência pós-escravidão no Brasil não incluiu barreiras legais e sociais, logo, em tese, as políticas de ações afirmativas não seriam necessárias”.

Essa fala indica quanto o passado dos negros, também depois da dita abolição, é desconhecida externamente às fronteiras do país. Foram tempos cheios de percalços atravessados pelos descendentes dos escravos.

Um fato histórico: Getulio Vargas, em 1945, ainda sob a égide da ideologia da eugenia, justifica assim a assinatura de um decreto-lei que favorece a imigração de europeus: “a necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as características básicas mais desejáveis de sua ascendência”. O objetivo era o  “branqueamento” do Brasil.

A informação acima consta de uma miríade de outras transmitidas pela excelente coletânea de artigos – AS POLÍTICAS PÚBLICAS E A DESIGUALDADE RACIAL NO BRASIL 120 ANOS APÓS A ABOLIÇÃO – publicada em 2008 pelo IPEA. Essa obra, organizada pelo economista Mário Theodoro, vem recheada de contributivas  análise de pesquisas qualitativas (documentos) e quantitativas. É um trabalho de primeira utilidade na formação de um conhecimento a respeito da trajetória dos negros. Os articulistas buscam referências em acontecimentos datados a partir de 1850 e analisam o cenário até os dias atuais. Essa obra ilustra muito do que aconteceu e dá luz ao que repercute concretamente ao que acontece na vida dos negros ainda hoje.

Dentro dos mesmos moldes da norma getulista, não só foram criados  instrumentos que “embarreiraram” um melhor desenvolvimento social, político e econômico dos afro-descendentes mas, efetivas políticas publicas que prejudicaram a fatia da população de pele mais escura.

Ademais, no Brasil nunca foi realizada uma consulta publica, seja no âmbito municipal, estadual ou mesmo federativo, que avaliasse a opinião dos brasileiros sobre o tema políticas de ações afirmativas.  Pode se supor que num caso de um levantamento assim, nenhum dos governos pós-abolição o tenha feito com medo de um recado amargo e que ateste essas distorções.


*Fonte: http://www.nytimes.com/roomfordebate/2012/03/29/brazils-racial-identity-challenge

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