Fora do Brasil existe um grande
desconhecimento sobre a História do país. Até então nada de novo. Infelizmente
pouco de nós brasileiros também conhecemos o registro dos acontecimentos a
fundo.
Um fato relacionado a esse tema
chamou sobremaneira a atenção nos últimos dias.
Num debate sobre as cotas raciais
nas universidades do Brasil, aberto pelo jornal The New York Times* ,
surgiu uma declaração desconfortável.
Trata-se de uma opinião da escritora e professora de Ciências Políticas do
Instituto de Tecnologia de Massachusetts, doutora Melissa Nobles: “Ao contrário do que aconteceu nos Estados
Unidos, a experiência pós-escravidão
no Brasil não incluiu
barreiras legais e sociais, logo, em tese, as políticas de ações afirmativas
não seriam necessárias”.
Essa fala indica quanto o passado
dos negros, também depois da dita
abolição, é desconhecida externamente às fronteiras do país. Foram tempos
cheios de percalços atravessados pelos descendentes dos escravos.
Um fato histórico: Getulio
Vargas, em 1945, ainda sob a égide da ideologia da eugenia, justifica assim a
assinatura de um decreto-lei que favorece a imigração de europeus: “a necessidade de preservar e desenvolver,
na composição étnica da população, as características básicas mais desejáveis de sua ascendência”. O
objetivo era o “branqueamento” do Brasil.
A informação acima consta de uma
miríade de outras transmitidas pela excelente coletânea de artigos – AS POLÍTICAS PÚBLICAS E A DESIGUALDADE
RACIAL NO BRASIL 120 ANOS APÓS A ABOLIÇÃO – publicada em 2008 pelo IPEA.
Essa obra, organizada pelo economista Mário Theodoro, vem recheada de
contributivas análise de pesquisas qualitativas
(documentos) e quantitativas. É um trabalho de primeira utilidade na formação
de um conhecimento a respeito da trajetória dos negros. Os articulistas buscam
referências em acontecimentos datados a partir de 1850 e analisam o cenário até
os dias atuais. Essa obra ilustra muito do que aconteceu e dá luz ao que
repercute concretamente ao que acontece na vida dos negros ainda hoje.
Dentro dos mesmos moldes da norma
getulista, não só foram criados
instrumentos que “embarreiraram” um melhor desenvolvimento social, político
e econômico dos afro-descendentes mas, efetivas políticas publicas que prejudicaram
a fatia da população de pele mais escura.
Ademais, no Brasil nunca foi
realizada uma consulta publica, seja no âmbito municipal, estadual ou mesmo
federativo, que avaliasse a opinião dos brasileiros sobre o tema políticas de
ações afirmativas. Pode se supor que num
caso de um levantamento assim, nenhum dos governos pós-abolição o tenha feito
com medo de um recado amargo e que ateste essas distorções.
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